Em mais uma “História de pescador” apresentamos um belo conto de Mark Anthony Swedberg. Nele você conhecerá a luta de André Fortunato contra seu pecado de estimação.
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O triste fim de André Fortunato
Texto: Mark Anthony Swedberg
Edição e narração: Chico Gabriel
O desejo de comer a fruta era quase insuportável. Ele sabia que não devia: era expressamente proibido.
— Mas, é bravo, né? — pensava ele — Que fruta mais deliciosa! E todo mundo come. Normal. Sem um pingo de consciência.
André deu alguns passos em direção à ala de frutas e verduras do supermercado, ainda refletindo sobre aquela fruta bonita e atraente.
— Que motivo Deus tem para me negá-la? É uma coisa tão natural e o desejo vem dentro de mim, do meu íntimo. Parece até que Deus tem prazer em me atormentar. Afinal de contas, foi ele quem me deu a necessidade de comer e um desejo forte por frutas suculentas.
Sem perceber o que fazia, André viu-se novamente em frente à banca com a fruta proibida. Toda célula do seu corpo tremia de vontade por ela.
— Uma vezinha certamente não vai trazer consequências muito ruins. É tão comum! Antigamente as pessoas levavam isso a sério. Hoje ninguém nem liga. Até vendem abertamente no supermercado!
Ele hesitou um pouco mais…
— Depois de ver como é, aí eu me arrependo e paro. É uma vez mesmo! Deus é misericordioso. Ele vai entender e me perdoar.
Não podendo mais se conter, André primeiro olhou de um lado para outro e depois pegou uma fruta e pôs no carrinho, tendo o cuidado de colocar outra mercadoria em cima para ninguém ver.
A caminho do caixa e depois do carro, sua imaginação correu solta: como seria gostosa! Ele podia sentir o cheiro doce e imaginar o suco escorrendo pelos cantos da sua boca e melecando suas mãos. Parece que metade do prazer da coisa estava na antecipação.
Uma vez no carro, ele se dirigiu a um lugar isolado, longe de olhos curiosos. Aí abriu a sacola e pegou a fruta. Por um longo minuto, segurou-a nas mãos, sentindo seu peso e sua textura suave e agradável, como se fosse feita de cera. Sua consciência ainda relutou, valente. Mas, depois de alguns instantes, ela perdeu a batalha e se calou. Então, ele comeu…
— Ahhhh! Que delííííííciaaa!!! É melhor ainda que pensei. Nunca imaginei que pudesse ser tão gostosa. Como Deus poderia proibir isto?
André começou a ficar bravo. Alguns minutos mais tarde, porém, o sentimento era outro: uma profunda tristeza, quase um desespero pelo que tinha feito. Parecia que o céu havia se fechado e ele estava prestes a ser esbofeteado por ventos, relâmpagos e trovões. Clamaria a Deus, mas temia ser insincero. Então voltou pra casa, deprimido. Só no outro dia conseguiu fazer uma confissão meio sem graça a Deus.
Passaram-se alguns dias e André lutou bravamente contra a tentação de comer novamente. Quando ia ao supermercado, evitava a banca com a fruta, ou, quando não dava, passava rápido, sem olhar.
Mas lembranças do prazer daquele dia o atordoavam e não demorou muito até se ver mais uma vez diante daquela banca de frutas, travando nova batalha com sua consciência. Desta vez a batalha durou menos tempo e comprou logo a fruta. Depois que comeu, novamente sentiu aquele peso na consciência, mas sabia que a sua resistência estava diminuindo.
E assim foi. Às vezes resistia mais, às vezes menos, mas sempre acabava comendo. Isto o levava a tempos de depressão, tempos que perdia a vontade de fazer qualquer coisa a não ser ficar em casa, no seu quarto. Outras vezes, justificava o pecado e tentava servir a Deus mesmo assim. Mas sabia que estava sendo hipócrita e, aos poucos, foi deixando seus ministérios na igreja.
Uma vez até fez uma consulta no psicólogo. O psicólogo o convenceu que não devia sentir culpa ao comer. Então, André passou um tempo defendo a liberdade cristã para comer da fruta. Mas seu ser já não aguentava mais de exaustão e sequidão interior.
Outra coisa aconteceu despercebido: a fruta começou a perder o seu prazer. André tinha a sensação de um grande êxtase, mas o fato é que estava lembrando da primeira vez, sempre na expectativa de sentir novamente o que sentiu aquela vez. Mas nunca sentia. Agora ele comia porque não conseguia ficar sem comer.
Eventualmente seu pecado tomou conta de tudo: era o gasto mais alto de cada mês, o prazer que expulsava todos os outros prazeres e o fator que regia seu relacionamento com Deus. Ele se sentia seco, cansado, esgotado e vazio. Depois de muitos anos, ele simplesmente morreu.