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Sangue sugado

Texto: Thiago André Monteiro
Edição e narração: Chico Gabriel

Não sei ao certo o que será,
Mas eis sonora expectação:
O sol decerto surgirá
Serei porção da Criação!

Será que, sendo, crescerei?
Cerrarei cedo num caixão?
Será que cego casarei?
Transitarei na solidão?

Só sei que sonho amanhecer,
E fazer jus a plenos sábados.
Sentir num banho arrefecer
Dois corpos nus, dantes suados.

Persistirei no existir?
Serei papai sem ter receio?
Exultarei sempre ao sentir
O som do filho ao travesseiro?

Terei, ao certo, sentimentos néscios!
A vida, num triz, sairá ilesa,
Trovões de ódio, ciúmes tóxicos,
Talvez até ilusões de riqueza.

Sonho seguir a senda sadio,
Sofrer com tristeza a certa calvície,
Por fim encerrar, sereno e senil,
Passando ao céu em ditosa velhice.

Mas o sonho sumiu, só sinto a dor.
Assassinado sou, antes da infância.
Esse som surdo do sugador
Secou meu sangue e minha esperança.

Thiago André Monteiro
julho, 2019

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